No meu trabalho os funcionários concursados disputam como leões famintos o dinheiro dos cargos em comissão. Um deles, do alto da sua remuneração adicional dizia pérolas que vale reproduzir. Ele sempre trabalhava horas a mais em vez de treinar um colega para dividir o serviço. Quando ele tirava seus dez dias quebradinhos de férias, a despeito do princípio da continuidade do serviço público, interrompia-se a atividade. Naqueles dez dias apareciam um ou no máximo dois casos inadiáveis, então a tal diretora resolvia, dava ordens explicadinhas a um dos funcionários mas só para aquele caso. O tal funcionário era insubstituível e sempre dizia que entre um mal e um outro mal maior ninguém escolheria o maior.
O que eu aprendi lá, então, se não se aprendia a servir ao público? Bom, acho que a maior lição que eu aprendi foi como impedir a ascensão. Valia tudo: quebrar computador, esconder o material de trabalho, deixar o funcionário de castigo, incomunicável e sem nenhuma tarefa para realizar, insinuar que quem conversasse com o tal funcionário perderia a verba do cargo em comissão ou a bolsa de estagiário, escrever no quadro de avisos com letra minúscula o nome do funcionário, oferecer a funcionária solteira a todos os homens como se ela fosse uma escrava que devesse ter um senhor, pisar no pé, acumular 20 dias de serviço braçal para ser feito no retorno das férias, escrever no prontuário de um servidor altamente concursado que ele deve é ideal para trabalhos que não requeiram inteligência, depreciar a comemoração do aniversário. É claro que metade da tortura ( que até parece não ser crime ) não é possível lembrar nesse instante.
Também aprendi que a principal aliada dessas práticas é a preguiça racial, a preguiça em relação a ações afirmativas. O grupo acredita que é assim, que deve ser assim. Que existe gente superior, que existe uma etnia superior. Se a gente dá poder a essa pessoa tem que ficar explicando e explicar dá muita ... preguiça. Quando conheci a tal diretora sequer pensei na palavra racismo. Um ano depois a ouço se justificar pelos insultos e pelos gritos: meu pai era alemão. Ela não disse que é um povo racista, só insinuou, quem acaba interpretando é o ouvinte. Algumas pessoas acham uma negra velha alguém bem fora da estatística que traça o perfil dos concursados. Por pelo menos duas vezes nesse trabalho um funcionário terceirizado que já convivia comigo há um bom tempo me perguntou se eu era igual aos outros concursados.
Estou tendo um reforço de aprendizagem com a tal japa gorda, sem peitos e dos dentes pretos. Eu também tinha aprendido que mais do que prejudicar uma pessoa você deve demonstrar ostensivamente que está causando mal. Só assim cria-se um conflito. Agressões só prejudicam, já oscConflitos têm poder.
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