terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Não somos filhos da puta

          Talvez sejamos todos a mesma pessoa, serei você, você me será.  A música que falou, não fui eu.  É nascer pelado e sem dente para passar anos usando a força física para construir coisas sem poder aproveitar.  Anos de trabalho duro para beneficiar um governo, um familiar, um patrão ...  pelado e sem dente, novamente. E novamente carregar nos braços a tarefa árdua de construir o mundo. E reze para nascer num corpinho todo funcional, perfeitinho. Torça para a sua mamãe não ser forçada por um daqueles caras que, se fosse pelos atributos, não arrumaria nem uma cabra. Torça para não nascer num país violento: nesses locais as mãos, as idéias,  a atitude gregária, o empreendedorismo ... são irracionalmente desperdiçados.  
          E quem é você para pedir uma cota daquilo que antes já produziu.  Nem mesmo Ela,  a origem de tudo, teve como reivindicar prestígio  ou royalties.  Eva vive em algum corpo talvez arruinado, talvez jogado com tripas pra fora num hospital de campana, talvez sendo estuprada por 18 militares,  talvez fuzilando sentenciados, e talvez enfiando o ferrão nas flores e levando um llíquido para alguma colméia.
           Eva pode ser qualquer um de nós.  A Grande Construtora.  Se nós estamos no Facebook foi porque ela decidiu.   Você, por exemplo, tem um milhão de idéias aí nessa cabecinha. Quer salvar o mundo, estamos todos aflitos.  As idéias de Eva deixaram de ser mero projeto.  Mais do que  Deus decidiu que  Paraíso não deveria  ser a última parada do trem da vida.  Sabia que se o Paraíso não acabasse o mundo acabaria. Acabaria para sempre alí, olhando para Adão, um único idioma e só para o vocabulário restrito aos itens de série da vida paradisíaca.   O passado já passara mas estariam condenados a um passado eterno.
          A maçã aparece todos os dias para várias pessoas, em vários lugares, fato que só serve para realçar a santidade de Eva, que aliás há muito tempo já deveria ter sido beatificada, canonizada, brindada e cantada.  Mesmo sabendo que perderia os bens, o conforto, a respeitabilidade e talvez até a sanidade manufaturou as primeiras roupas, foi pioneira na preparação dos alimentos, discutiu a relação uma vez que seu ato parece não ter sido tão bem recebido quanto ela imaginava ser justo ... criou necessidades que estudamos até hoje para satisfazer pela melhor técnica.   E fora  a parte material tornou divertida a existência feminina, esse direito de apontar o dedo no nariz de um homem e dizer "  seu filho não vai nascer ".
          Uma oportunidade de aprimorar as técnicas pró humanidade não deve ser desperdiçada.  Imagine o que seria de todos nós se Eva tivesse dado o passo para trás só para se manter quentinha e no conforto.   Hoje ela mesma estaria zanzando por aí numa vida completamente pobre. Um mundo rico, como diria lá a nossa amiga, também é um mundo sem pobreza.  Mas isso é o básico, um mundo rico  é um mundo com opções, e para todos.   O mundo não nasceu assim limpinho e cheirosinho,  em tanta produção todos temos cotas.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Parece que era ontem

     Mamãe, o que é virgindade
     Não pude explicar porque mulher direita não falava sobre sexo
     E se a mulher não fosse direita não teria como comprar ou alugar uma casa, pagar o dentista, comprar carne ... o maior sonho de uma brasileira poderia ser degustar carne de um boi. Nada de preconceito só como fraldinha porque acém é duro.
     Mas mamãe, os homens têm mais direitos que as mulheres, se um homem quiser trocar a mulher por uma bem mais nova a mulher não vai ser mais virgem. Ou vai? Não sei porque todas as mulheres são direitas e as moças têm pavor de qualquer problema com a imagem. A imagem garante o feijão.   Se papai trocar você dá para se prostituir?
    Isso eu jamais perguntei porque falar em prostituição me renderia um tapa nas fuças.
    Hoje: velhas mulheres sem aposentadoria.
    Isso não é uma lamentação. É uma constatação de que construções culturais podem levar à ruína as mesmas pessoas que  criam e apoiam.   São a definição do antigo bebê diabo, algo arruinante que eu dizia existir para outrem. Em pouquíssimos anos a realidade pode sofrer uma mudança radical. Uma crendice malévola que algum cidadão plantou pode gerar limitações para ele mesmo, basta uma mudança rápida nos costumes.  Se  quer um coselho não saia por aí, irresponsavelmente, espalhando crendices que podem num segundo momento prejudicar os seus filhos. Afinal, você as repete enfaticamente, no primeiro momento é você mesmo quem sai prejudicado.